As 5 Sabedorias

Sabedoria do Espelho

Diane Buda Akshobhya, Cor Azul

• Capacidade de entendermos os seres nos seus próprios mundos.
• Entendê-los não é ficar preso a eles. Não é ficar preso na paisagem onde esses seres estão.
• Para isso precisamos de Tathata, isto é, entrar na paisagem desses seres mas continuamos na Mandala Primordial (mandala Primordial), isto é dupla realidade.
• Quando entramos na paisagem desses seres nós vemos como eles estão operando e com base nisso brotam: (1) compaixão (2) amor

(3) alegria (4) equanimidade (5) generosidade (6) moralidade (7) paz  (8) energia constante  (9) concentração (10) sabedoria – 4 qualidades incomensuráveise 6 perfeições – brotam em Corpo, Energia, Mente e Paisagem.

• Então podemos contemplar se isso acontece ou não. Essa é a nossa prática: nós paramos; entramos naquela abordagem; reconhecemos desde a Mandala Primordial, a paisagem particular que aqueles seres estão operando; nessa paisagem particular entendemos o sofrimento desses seres e aí brotam as 4 qualidades e 6 perfeições. Brotou compaixão? Apesar de tudo que o ser faz nós conseguimos reconhecer atividades positivas nele?

• Chagdud Rimpoche dizia “Não é possível nascer em um corpo humano sem ter compaixão”.

·         Nós precisamos olhar e reconhecer essas qualidades. Reconhecer essas qualidade isso é Amor. Então quando vemos brotar Compaixão e vemos brotar Amor nós nos livramos do Amargor. Quando olhamos os seres e entendemos eles nos mundos deles não temos Amargor que é a aversão, o mal estar, o impulso de estar longe desses seres. E vai surgir Alegria quando Amor e Compaixão operam.

Roteiro 200 itens

Vamos pensar assim se a gente olha aquilo nós desenvolvemos a capacidade para quando encontrarmos com as pessoas. Se não desenvolvermos brotam os estímulos usuais: matar, roubar, sexo impróprio, gritar, agredir com palavras, fala inutilmente, discórdia, pensamentos equivocados (heresia, ignorância), carência, avareza, raiva, rancor, ódio, medo – 10 ações não virtuosas é o nosso impulso usual

Aí nós substituímos essas 10 ações não virtuosas por as  4 ações incomensuráveis e as 6 perfeições.

Mas nós temos que fazer a prática. Diferença de uma palestra e um programa de treinamento. Ninguém é obrigado a fazer prática nenhuma. É difícil mudar sem pegar uma certa coisa, olhar com muita atenção, simular o funcionamento daquilo até que aquilo começa a funcionar. Se a gente faz, tudo bem. Se não faz, tudo bem. Mas é melhor fazer.

Tem aqueles que vão treinar de uma forma muito detalhada de tal modo que eles possam ajudar os outros a fazer. Isso é muita compaixão. Eles não só treinam para resolver suas coisas, mas eles tratam de olhar com cuidado o que os outros que vierem depois e quiserem treinar vão encontrar de dificuldades. Eles vão desenvolvendo habilidades de como explicar aquilo, como fazer aquilo funcionar, como produzir aquelas transformações. Isso também é muito útil. De modo geral essas pessoas vão fazer retiros maiores para ter tempo de examinar o próprio método.

 

Sabedoria da Igualdade

Diane Buda Ratnasambhava, cor amarela.

Procura entender como olhar de forma lúcida à partir da Mandala Primordial e quando olhamos o sofrimento de outros seres e vemos oportunidades, nos alegramos em beneficiá-los como se nós tivéssemos fazendo alguma coisa para nós, essa é a Sabedoria da Igualdade, cor amarela. É a base do nosso êxito material no mundo.

Se praticamos isso naturalmente surge o mérito de nós não termos falta de coisa alguma. Essa é a base por isso cor amarela, cor amarela significa ouro. Então quando nos alegramos a oferecer para o Mundo e para as pessoas naturalmente nós ficamos dentro dessa Mandala que nos protege, ainda que a motivação não seja essa. A motivação é trazer benefício, mas ai surge esse aspecto mágico.

Baseado nessa sabedoria brotam as 4 ações incomensuráveis e as 6 perfeições.

Esse foco ele nos permite, ao praticar compaixão, alegria, equanimidade, etc, fazê-l o à partir da cor amarela, da igualdade.  Isso produz a noção de perfeição das qualidades, porque a perfeição das qualidades não é quando praticamos as qualidades, mas quando elas surgem de forma totalmente natural,  sem esforço, sem artificialidade.

Olhem as pessoas com quem tem relações se brota isso ou não. Pode-se treinar com as crianças “a gente se alegra ou não ao oferecer coisas para elas?”.

 

Sabedoria Discriminativa

Diane Buda Amitaba, cor vermelha.

Sabedoria discriminativa é a mais importante no sentido discursivo, no sentido de entendimento. Sabedoria que trabalha essa dimensão de entendimento.

Tudo o que estamos falando é sabedoria Discriminativa, o processo mental.

Ainda que o programa de 21 itens aspira trabalhar além do aspecto discriminativo. Nós procuramos  produzir as diferenças no nível de energia. Por isso que trabalhamos com corpo, energia, mente, paisagem e céu. Trabalhamos com esses cinco aspectos. Isso significa que a gente ultrapassa o aspecto discursivo, discriminativo também. Mas o aspecto discriminativo é que nos permite olhar pra dentro, reconhecer as características de pensamento e ir ultrapassando os obstáculos todos. Ainda sim é necessário entender que o aspecto discriminativo vai operar dentro da perspectiva  “o mundo que eu vejo é inseparável das estruturas que eu uso para vê-lo. Eu não consigo ver o mundo além das estruturas em que eu estou operando” (Wittgenstein).

O que acontece na sabedoria discriminativa do Buda Amitaba eu sei claramente, eu entendo claramente a co-emergência e sei como ultrapassar os limites disso, ou seja, a operação da mente não vai mais ficar limitada às categorias, mas ela também não vai poder elaborar outros conceitos, ela entende que não é possível ultrapassar como uma sabedoria discursiva a separação do sujeito objeto.

O aspecto mais profundo que podemos atingir é a complementariedade. Trabalhar com diferentes realidades que brotam de diferentes estruturas mentais. Diferentes estruturas cognitivas geram diferentes realidades. Eu trabalho com elas sem precisar compatibilizar uma com outra.

Exemplo: não preciso compatibilizar acupuntura com homeopatia, ou com alopatia. Eu trabalho acupuntura com acupuntura; homeopatia com homeopatia; alopatia com alopatia. É simples. Não preciso entender acupuntura para ser um dentista. Do mesmo modo não preciso saber odontologia para aplicar agulhas. São categorias diferentes. Cada uma delas tem uma formação completa que não tem superposição, interface com a outra. Isto é complementariedade. Cada um desses campos do saber brota dentro de seu próprio referencial, de uma estrutura de realidade, dentro de um espaço de possibilidades diferentes.

Quem entendeu bem isso e estudou  com cuidado foi Wittgenstein. No Budismo nós estudamos isso também.

A Sabedoria Discriminativa opera com essas categorias. É discursiva, muito útil. Nós podemos penetrar em cada pedaço da construção do mundo em que estamos, pois nosso mundo é todo construído. Ele opera por Lung (energia), mas a categoria discriminativa consegue penetrar e traçar os roteiros todos que os Lungs estão operando e os significados que estão embutidos e estão operando ali também.  Por quê? Porque o mundo é artificial. O mundo ilusório como nós entendemos é todo formado a partir de estruturas causais. Nós geremos uma mente causal que vai lá e traça aquilo, vai por trás daquilo, penetra cuidadosamente descortinando isso tudo. Isso é sabedoria discriminativa, muito útil.

Sua Santidade Dalai Lama considera de grande importância isso. Ele diz que todas as práticas que fazemos precisavam ser validadas pelo exame cuidadoso do significado delas. Esse exame naturalmente é feito através da sabedoria discriminativa.

 

Sabedoria da Causalidade

Diane Buda Amogasid, cor verde.

Na sabedoria da cor verde nós entendemos que os seres estão fazendo coisas negativas e nós não podemos deixar eles afundarem naquilo.

Essa sabedoria seria assim  “se tem alguém se afogando nós pulamos dentro da água”. Sua Santidade Dalai Lama diz se você está meditando, na beira de um rio e vê alguém em uma ponte, se jogando para morrer ai você pensa “ Bom ele está fazendo a parte dele eu estou fazendo a minha aqui estou meditando”. Isso seria um erro. Nós deveríamos ajudar aquela pessoa sair daquela situação negativa. Mas olhem bem o que significa tirar o outro dali? Significa a gente mesmo ter que entrar nessa situação negativa não é verdade? Nós vamos ter que nadar na mesma água que o outro está.  Isso significa entrar na “paisagem do outro”. Agora se a gente entrar na paisagem do outro e não souber nadar, aí são dois problemas, nós só pioramos a situação. Aí no mínimo saltar de boinha. Eventualmente dessa forma nós podemos ajudar o outro. Esse é o nosso objetivo, que nós possamos ajudar o outro no meio daquela dificuldade.

Depois nós temos uma outra compreensão que é assim: nós entendemos que se fizermos ações negativas nós vamos ter problemas; se fizermos ações positivas isso é melhor. Isso também é sabedoria da causalidade. Ações negativas produzem dificuldade, ações positivas produzem resultados bons, positivos “de modo geral”.

Tem uma outra categoria que nós precisamos lembrar: quando coisas negativas caem sobre nós, precisamos desenvolver a capacidade de transformar aquilo em algo positivo. Exemplo: um médico de plantão no pronto socorro só vai receber problemas ali, com certeza. Então ele não vai lastimar, ele não vai gerar aversão, ficar meditando num canto enquanto a pessoa está ali necessitando. Ele vai olhar pra pessoa, vai tentar remover imediatamente o que há de pior, tentar ver o que há de melhor e começar um processo de recuperação daquela pessoa. Isso significa pegar o pior e transformar em uma coisa positiva. Ele toma o negativo como a base do que ele vai poder fazer. Ele não vai tomar uma coisa positiva por base, ele vai tomar aquilo que está na frente dele, aquilo que é negativo mesmo.

Então todos nós em diferentes âmbitos precisamos encontrar o que é obstáculo e aproveitar o obstáculo para girar aquilo como uma vantagem.

No meio disso naturalmente tem algumas habilidades que nós precisamos desenvolver, ou seja, aquilo que é negativo não deveria vencer. Essa é uma habilidade de contraposição à negatividade. Se eu não tenho essa capacidade de contraposição, eu espero e opero junto com a “roda da vida”, porque nenhuma pessoa em nenhuma circunstância consegue vencer mais do que um tanto dentro da “roda da vida”. Então nós preparamos para atuar depois que isso acontecer. A hora que a pessoa sair dessa “roda” nós ajudamos ela.

 

Sabedoria da Compreensão do Espaço Básico (Céu)

Diane Buda Vairochana, cor branco.

O Espaço Básico significa que tudo isso que estamos falando são meios hábeis dentro do mundo condicionado.

Se olharmos de uma forma muito, muito ampla (reconhecêssemos dharmata),  uma analogia seria o Universo como os cientistas pensam: espaço tridimensional imenso, gigantesco, galáxias, dentro das galáxias infinitas estrelas, os planetas e muitos tipos de vida. Uma pequena estrela, alguns planetas girando em volta, um deles manifesta a biosfera (onde nós estamos); dentro da biosfera um tipo de ser, que é o ser humano; dentro desse ser muitos tipos de obstáculos; esses obstáculos os Budas vem e olham; isso é quase microscópico.

Agora descobriram uma estrela milhões de vezes maior do que o Sol. O Sol é uma coisa pequena dentro dessa perspectiva. Em volta desse pequeno Sol, por um tempo, antes que ele se expanda novamente como uma gigante vermelha, nós temos o surgimento da biosfera. Então a biosfera manifesta a vida. Dentro dessa vida a ignorância. Diante da ignorância se abre uma pequena janela por um tempo e os Budas dão ensinamentos. Nós estamos nessa situação, dentro disso por um pequeno tempo.

Então quando nós ampliamos nossa visão nós vamos em direção a isso. Nós não estamos nem olhando os múltiplos mundos. Nós estamos olhando o espaço infinito onde infinitos mundos podem surgir. Aí a nossa importância se reduz. Essa redução da nossa importância é o nosso ponto. Entendemos o aspecto do céu, essa vastidão e nós olhamos esses pontos particulares. Mesmos os ensinamentos dos Budas, as quatro nobres verdades, os Budas todos, a gente vê aqui o corpo humano. O corpo humano é um formato muito peculiar, muito transitório também, os seres humanos existem há pouco tempo.

Nós precisamos repousar em silêncio nessa vastidão. Significaria a prática da Presença. A prática principal é essa compreensão daquilo que está além dos condicionamentos. Tathata é a compreensão da dupla realidade. Isso também é Tathata. Mas Tathata não está apenas na sabedoria da compreensão do espaço básico.  Todas as sabedorias precisam de Tathata.

Nessa sabedoria, de Dharmata, eu percebo a natureza vasta dentro da qual os mundos surgem e o Dharma (caminho) surge como um remédio dentro desses mundos particulares.

 

Cinco Diane Budas

Isso conclui a Sabedoria dos Cinco Diane Budas. Historicamente se diz que os Cinco Diante Budas surgem de uma visualização dos alunos do Buda Sakyamuni depois que ele morreu. Vocês podem imaginar o vácuo que se estabeleceu no assento onde o Buda sentava. Pode sentir que a coisa pesou. E aí alguns praticantes se deram conta que se eles se mantinham em prática e imaginavam que o Buda estivesse ali eles sentiam como se o Buda estivesse mesmo, aquela presença se manifestava. Com o tempo eles viram que não era apenas o Buda Sakyamuni que se manifestava. Tinha o Buda Sakyamuni, de uma lado Chenrezig, do outro lado Manjushri. Com isso eles viram que o aspecto sutil, não pelos olhos, o aspecto sutil do próprio Buda Sakyamuni mas também tinha o corte lúcido de Manjushri  - cortava a ignorância. E do outro lado dessa luz também tinha a Compaixão, Amor, Alegria, Equanimidade que é a manifestação do buda Chenrezig. É como se de olhos abertos ou fechados eles vissem essa presença.

Quando o Buda corta a ignorância, ainda que aquilo doa, isso é Compaixão. E quando o Buda manifesta Compaixão ele o faz porque isso manifesta lucidez. Então a Compaixão e Sabedoria não tem separação, elas estão juntas. Pouco mais a frente eles continuam praticando e vêem Cinco Budas. Aí o Buda Sakyamuni desaparece e no lugar dele tem Cinco Budas, ou Cinco Presenças que são essas Sabedorias que eu expliquei, o aspecto sutil.

Então eles olham com o olho que não olha, com o olho além da luz do Sol e da Lua. Eles olham com esse olho a própria manifestação do Buda. Aí eles vão ver que o Buda manifestou / manifesta a Sabedoria do Espelho, Sabedoria da Igualdade, Sabedoria Discriminativa, Sabedoria da Causalidade e Sabedoria de Darmatha. Eles vêm as cinco sabedorias em tudo que o Buda manifestou.

Então o aspecto sútil do Buda são os Cinco Diane Budas. São Cinco Budas que vem na própria meditação. Isso é a prática de Guru Yoga. Ele fizeram Guru Yoga com o Buda Sakyamuni e descobriram o segredo do Buda Sakyamuni, seu aspecto sútil, as cinco sabedorias.

Agora tudo isso converge para a Sexta Sabedoria, a Sabedoria de Vajrasatva na qual as manifestações que surgem diante de nós sejam quais forem, no formato que elas aparecem, sem mexer em nada, sem alterar coisa alguma, sem rejeitar nada, sem buscar qualquer coisa adicional, sem transformar o que aparece, aquilo que surge diante de nós é a Manifestação da Natureza Primordial.

Quando nós olhamos a Natureza Primordial desse modo nós entendemos que qualquer aparência diante de nós pode ser transformada em Sabedoria e no reconhecimento do Buda Primordial. A abordagem de Vajrasatva é o caminho de Athi Yoga, o caminho mais curto.

 Para nós em meio ao mundo, significa que aquilo que vier, aquilo que aparecer, sem transformar coisa alguma, pode ser utilizado como fonte da nossa prática. Essa é a base da prática de Samapati, a prática da abordagem Tantraiana.  Ou seja, aquilo que vem, como vem, no formato que vem, sem mexer em nada, aquilo pode ser transformado em prática através da lucidez com que nós olhamos aquilo.